O Iron Biker Brasil é mais do que uma competição de mountain bike — é uma experiência geográfica, histórica e esportiva. Realizado em Mariana (MG), o evento desafia os ciclistas com as trilhas mais antigas e diversas do país. Por trás das subidas, descidas, áreas irregulares e estreitas, há, também, uma história de bilhões de anos que molda a paisagem e interfere diretamente na prática do ciclismo de montanha.
Essa relação entre paisagem e desafio físico se aprofunda quando observamos a origem dos terrenos que compõem o trajeto. Os distritos que, normalmente, compõem a rota do Iron Biker — Camargos, Santa Rita Durão, Passagem de Mariana e Cachoeira do Brumado — estão inseridos no chamado Quadrilátero Ferrífero. Segundo o geólogo André Danderfer, do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), as rochas que formam o subsolo local têm origem em ciclos geológicos que remontam há bilhões de anos. “Essas formações rochosas deram origem a diferentes tipos de solo, que mudam ao longo do percurso e influenciam diretamente o tipo de trilha e os desafios enfrentados pelos ciclistas”, explica.
A riqueza geológica, presente tanto em Mariana quanto em seus distritos, é descrita em detalhes pelo geólogo André Danderfer, que ressalta como os diferentes tipos de rochas se transformam em solos com características únicas. O geocientista explica na sequência como os diferentes tipos de solos podem afetar tanto a tração quanto o desgaste dos pneus e o controle da bicicleta durante os dias de prova. “Nos solos mais argilosos, podemos ter um piso mais escorregadio quando molhado. Por isso, exigem atenção redobrada nas curvas e descidas. Por outro lado, os solos arenosos apresentam tendências de drenar melhor a água, mas dificulta a tração em subidas íngremes. Por fim, os solos mais pedregosos, que são mais duros e técnicos, exigem um preparo físico e habilidade para lidar com obstáculos e trepidações’’, afirmou.
Toda essa teoria se transforma em realidade para quem pedala pelas trilhas do Iron Biker Brasil. O marianense César Guimarães Filho, de 25 anos, que já participou de quatro edições da competição, conhece como poucos as nuances do terreno da região. “Mariana tem uma concentração muito grande de minério de ferro. Nos estradões de terra vermelha, por exemplo, o solo seco se transforma em um pó fino que levanta muita poeira. Mas, quando chove, vira uma lama pegajosa que pode comprometer até o desempenho mecânico da bike. Já os trechos rochosos exigem técnica, principalmente, quando estão úmidos, porque ficam extremamente escorregadios”, descreve.
Mas não é apenas o tipo de solo que interfere na dinâmica da prova. Segundo o geólogo, André Danderfer, o relevo acidentado da região é outro elemento crucial para entender os desafios enfrentados pelos competidores. O especialista explica que a paisagem da Primaz de Minas foi formada por um conjunto de serras e planaltos com altitudes variadas, como as serras do Ouro Preto e do Curral. André vai ainda mais longe e explica como este fenômeno aconteceu no passado. “A formação dessas montanhas se deve a eventos tectônicos que ocorreram em diferentes períodos da história geológica, criando desníveis acentuados e rotas de alto nível técnico’’, concluiu. São estes movimentos geográficos que nos ajudam a entender por que o Iron Biker Brasil é conhecido pelas suas trilhas exigentes, com longas subidas, descidas técnicas, curvas fechadas e variações bruscas de altitude, exigindo dos atletas estratégia e resistência.
Quando esses dois elementos — solo e relevo — se encontram, criam uma trilha com personalidade própria, capaz de exigir o máximo dos participantes em diferentes momentos do percurso. Para Lucas Fonda, um dos organizadores do Iron Biker Brasil, é justamente essa combinação que torna Mariana um lugar especial. “Poucos lugares no mundo oferecem, ao mesmo tempo, um visual tão imponente e uma diversidade de terrenos tão perfeita para o mountain bike. Aqui, cada curva revela não só um desafio técnico, mas também uma paisagem que tira o fôlego”, destaca.
Diante desse cenário técnico e imprevisível, os atletas precisam ir além do preparo físico básico: a preparação deve ser estratégica e cuidadosa. “O Iron Biker Brasil não é uma prova que se começa a treinar às vésperas. É importante contar com um treinador, simular altimetrias e distâncias nos treinos e ajustar a bicicleta conforme o tipo de solo predominante. Eu sempre calibro os pneus e ajusto a suspensão de acordo com o que espero encontrar no trajeto. Além disso, estratégia nutricional e recuperação entre as etapas são cruciais para aguentar o ritmo”, disse o educador físico, Felício Borges.
Com diferentes solos, variações de relevo e condições climáticas imprevisíveis, o percurso do Iron Biker Brasil muda de personalidade a cada edição. A imprevisibilidade do terreno — ora seco e poeirento, ora molhado e pegajoso — desafia os ciclistas física e mentalmente. Ao fim de cada etapa, o que fica é a certeza de que, em Mariana, a geografia não apenas molda a paisagem, mas também escreve, com suor e técnica, as histórias vividas por quem pedala por essas montanhas mineiras.
A maior competição de mountain bike da América latina, Iron Biker Brasil, acontece de 12 a 14 de setembro, fim de semana que alçará Mariana à condição de capital mundial do ciclismo. Acompanhe mais informações sobre a prova pelas redes sociais: Instagram - @ironbikeroficial – e Facebook - facebook.com/ironbikerbrasil.
Foto: Luhan de Souza / Divulgação